sexta-feira, 13 de setembro de 2013

FEIJOADA SEM AMBULÂNCIA DE PLANTÃO

Receita do mês da Coluna de Gastronomia do Jornal das Lajes (Resende Costa-MG), cujo tema foi "Feijoada Completa", e falou um pouco da música do Chico, do que seria uma feijoada completa, da cultura que envolve esse prato e de algumas diferenças de costume do nosso país. 
Clique AQUI para ler.

Nosso novo bicho de estimação na roça,
essa porca linda nasceu em Prados-MG, se
chama "Feijoada" e pesa 90kg!
Mas a receita de hoje não seria uma feijoada completa na definição do escritor Stanislaw Ponte Preta, que disse que "uma feijoada só é realmente completa quando tem uma ambulância de plantão."
Nada contra a ambulância, mas dá pra fazer uma receita mais leve, porém, sem perder o sabor, graças a 4 importantes detalhes:

1) Escolha de ingredientes de qualidade;
2) Presença de pelo menos o pé de porco (dentre as carnes ditas como menos nobres), nem que seja só para cozinhar no feijão e ser separado depois. Além do sabor, ele solta o colágeno, que ajuda a transportar os sabores e dar corpo ao caldo;
3) Cuidado no preparo dos pertences, pra eliminar o máximo de gordura possível;
4) Fazer a feijoada um dia antes. Isso mesmo. Todo mundo sabe que a feijoada fica melhor no dia seguinte, então, por que não deixá-la pronta no dia anterior? Além do sabor apurado que ela terá, fazendo com antecedência o preparo é mais calmo e criterioso, e ainda evita trabalho e sujeira no dia do evento. Afinal de contas, dia de feijoada é dia de festa, e aí você só fica por conta de preparar os acompanhamentos. 
É assim que sempre fazemos, então vamos lá:

Ingredientes
(porção para 10 pessoas, mas certamente vai sobrar, como toda boa feijoada)

Pertences:
- 2kg de costelinha defumada cortada;
- 1kg de paio cortado em rodelas transversais finas;
- 1kg de lombo salgado cortado em cubos médios;
- 1kg de pé ou mãozinha de porco (peça ao açougueiro para partir cada uma em 4).

É sempre bom algum defumado na feijoada

Os famosos paios de formiga, aliás, de porco, da cidade de Formiga!

Demais:
- 1kg de feijão preto catado;
- 3 molhos de couve em fatias finas;
- 2 cebolas grandes picadas;
- 2 cabeças de alho picadas;
- 10 laranjas (6 descascadas e picadas e 4 espremidas em suco);
- 2 molhos de cheiro verde picados; 
- Cachaça, farinha, pimenta e louro;
- Vinagrete: tomate, pimentão colorido, cebola roxa, coentro (opcional), azeite e limão.

Preparo

No dia anterior ao preparo (2 dias antes da festa):
Deixar o feijão de molho na água (assim ele cozinha muito mais rápido);
Dessalgar o lombo salgado em uma vasilha com água na geladeira, trocando a água algumas vezes;

A salga e desidratação da carne ajuda a concentrar o sabor
No dia do preparo (1 dia antes da festa):
Lavar bem as mãozinhas, esfregar cachaça e limão, deixar descansar uns minutos e lavar em seguida com água bem quente. Ferventar com água, limão, cachaça e sal por 5 minutos, trocar a água e repetir o processo mais duas vezes;

A mão é melhor do que o pé
Também ferventar a costelinha com água, limão e cachaça por 3 minutos, mas só uma vez;
Cozinhar o feijão com as mãozinhas junto, até ficar 'al dente'. Deixando ele de molho e o feijão estando novo, nem gasta panela de pressão. Enquanto ele cozinha na panela comum você cuida dos demais ingredientes. Tome cuidado pra não cozinhar demais;

Misturamos um pouco de feijão "rapé" pra dar mais sabor.
E no início do cozimento junto com o preto ele fica azul!
Na panela que for fazer/servir a feijoada, frite/refogue rapidamente os demais pertences com o mínimo de óleo possível, cada tipo de uma vez. Escorra bem em papel toalha e descarte o excesso de gordura;
Na mesma panela, refogue a cebola, o alho e venha com o feijão, os pertences, o louro (4 folhinhas são suficientes) e 1/3 do cheiro verde;
Misture bem, abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar por 15 minutos. Desligue o fogo, mexa novamente, tampe a panela e vá dormir! Amanhã ela terminará de ficar pronta, depois de "cozinhar" com o fogo apagado durante a noite. Se estiver de noite, não precisa ir para a geladeira.

No dia da festa:
Ligue a panela, acrescente um pouco de água se o caldo estiver muito grosso, misture com calma, acrescente uma dose de cachaça, metade do suco da laranja e deixe cozinhar em fogo baixo por meia hora, tomando cuidado para que os pertences não cozinhem demais e desmanchem;

Acompanhamentos:
Uma opção interessante é servir a laranja junto com a couve crua e um pouco do suco da laranja e uma pitada de sal. A couve irá "cozinhar" nesse meio ácido, ficando mais leve do que a refogada e uma delícia. Se quiser, faça também a boa e velha couve refogada. Nesse caso, aumente a quantidade da compra de couve, que sempre desaparece na mesa;

Cores e gosto do nosso Brasil
Faça o vinagrete misturando os ingredientes picados bem pequeninos com azeite, limão e, se tiver em casa, um pouco de aceto balsâmico. Pra quem gosta de coentro, ele no vinagrete irá combinar muito bem com a feijoada, pode apostar;
Para o molho de pimenta, basta amassar os grãos de pimenta na vasilhinha que for servir, adicionar um pouco do caldo da feijoada, um pouco de vinagrete e cheiro verde.

Fizemos duas opções de vinagrete, com e sem coentro
Serviço
Salpique cheiro verde sobre a feijoada, não esqueça da farinha, das caipirinhas e, como bem lembra o Chico, solta as "cervejas estupidamente geladas pra um batalhão...e vamos botar água no feijão!

Veja como o caldo fica encorpado

 Bão apetit!

Dica do CASAL: costumamos comprar os pertences da feijoada em BH lá na "Feijoada de Minas", no Mercado Central (entrada da Av. Augusto de Lima, ao lado dos bares). Procure o Sô Jeci, mas fuja dos kits de feijoada que eles oferecem, com os pedaços já partidos em vasilhas. É muito melhor comprar os pedaços inteiros e, de preferência, você mesmo cortar em casa, no tamanho desejado.
Já a farinha pode ser comprada no "Rei do Fubá", na barraca do Sô Jaci (quase homônimo), no corredor da Rua Curitiba, também no mercado. Experimente a farinha de mandioca flocada da cidade de Cláudio-MG, deliciosa e com ótima textura.
E no dia que quiser comer a melhor feijoada (e comida em geral) do Mercado Central, vá ao Restaurante do Jorge Americano, que mereceu até uma postagem do nosso blog. Clique AQUI.











quarta-feira, 11 de setembro de 2013

16ª Edição do Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes

Aconteceu entre os dias 23 de agosto e 1º de setembro a 16ª edição do Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes e o CASAL GASTRÔ esteve por lá para conferir este, que é um dos maiores eventos gastronômicos do pais.
Nesse ano, a busca por novos sabores da culinária brasileira foi o tema de festins, debates, palestras e cursos.Todos eventos contaram com a participação intensa do público, mas para garantir uma vaga era necessário chegar cedo e se organizar.



Como nos anos anteriores, o festival contou com uma ótima estrutura montada, tanto no largo da rodoviária quanto na praça principal. E além de "respirar a gastronomia", os participantes aproveitaram para assistir shows de qualidade, como o do excelente Caffeine Trio.
Caffeine Trio! Sensacional!!!



Pequenos produtores puderam expor e vender seus produtos em um espaço montado ao lado da rodoviária, iniciativa legal da organização, porém um pouco tímida na nossa opinião. A importância desse tipo de exposição merecia, com certeza, estandes maiores e menos escondidos, quem sabe na praça principal. 
Afinal de contas, não estamos lutando para uma valorização dos produtos e produtores regionais? 
E os produtos e produtores visitados pela Expedição Gastronômica Brasileira do Festival, em vários estados do país, onde estavam?

De toda forma, deliciosos doces, mel, cafés, biscoitos, etc, eram comercializados e oferecidos para degustação, para que os turistas pudessem levar para casa um pouquinho do nosso estado.


Delicioso doce gigante de abobora com côco.
Receita guardada a sete chaves.


Uma das coisas que mais nos marcou nesse festival foi uma agradável e longa conversa (e aula!) com a pesquisadora da EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Filial São João Del Rey) Izabel Cristina dos Santos. Ela é coordenadora do projeto de resgate de hortaliças não convencionais, aquelas que antigamente eram encontradas com facilidade nas roças, como a vinagreira, bertália, chuchu de vento, peixinho, azedinha, entre outras, e que hoje perderam espaço para as hortaliças mais "famosas".
Deliciosas, riquíssimas nutricionalmente e muitas delas de fácil cultivo pela rusticidade.



Nas mãos do Chef Marcus Monteiro o chuchu de vento.

Com muita atenção Izabel nos ensinou como plantar, cuidar e mostrou a disponibilidade da EPAMIG em disseminar hortas não convencionais pelo nosso estado. Ganhamos mudas, sementes variadas e uma cartilha explicando mais detalhes das hortaliças. 
Sem dúvida foi de grande valia essa exposição, que deveria ter merecido um destaque maior por parte da organização, já que não havia nenhuma estrutura e divulgação. Merecia não só um estande em destaque mas até mesmo uma palestra, work shop ou coisa do tipo. 
De acordo com a representante da EPAMIG, a sua participação teria ocorrido por incentivo da Chef Tânea Romão (Kitanda Brasil, Tiradentes), que conhece seu trabalho e é uma entusiasta dessa corrente gastronômica - assim como nós.


Nosso caminho para o festival foi o mesmo do ano passado, saindo da nossa roça e passando por Resende Costa, Prados e Bichinho
Se quiser saber mais sobre esse delicioso caminho clique AQUI.

Em Prados, conhecemos o artesanato dos irmãos Santos, grandes artistas na fabricação de peças em madeira e ferro. José, um dos irmãos, nos mostrou com simplicidade todas suas artes. 


E como somos apaixonados por porcos (não só na panela mas como enfeite) não resistimos e compramos uma linda porca com seus filhotes, que já estão morando felizes e tranquilos na nossa roça:




Ispia só que lindo que é esse caminho alternativo pra se chegar em Tiradentes 
via Prados-Bichinho:


O dia estava maravilhoso!







    





Mais uma vez valeu a presença nesse importante festival, que poderia ser melhor ainda se dividisse melhor suas atenções entre os patrocinadores e os pequenos produtores, seja da região, de Minas ou do Brasil.
E que o festival não perca de vez a (sofisticada) simplicidade mineira de se fazer as coisas, sob pena de nos sentirmos cada vez mais como se estivéssemos em Campos do Jordão-SP e não em Tiradentes-MG...